Lá diz o ditado que “Quem não se sente, não é filho de boa gente” e eu, que nem sempre sou a maior fã de ditados populares, não poderia estar mais de acordo. As emoções fazem parte de ser humano e a sua expressão é o resultado de viver em pleno e apreciar a vida em todas as suas complexas dimensões. Ignorar o impacto das diferentes emoções em nós é promover o distanciamento de nós mesmos, o que, em consequência, limita-nos e impede-nos de trazermos o que somos para aquilo que fazemos. O trabalho não é exceção: não é expectável que, ao entrar no escritório, deixemos as emoções à porta e nos transformemos em seres guiados exclusivamente pela concretização, pelos objetivos e resultados, quais autómatos amorfos e sem expressão. Contudo, a verdade é que o nosso local de trabalho é um ambiente profissional e nem todas as manifestações das nossas emoções são adequadas e construtivas.
A forma como lidamos com as emoções no trabalho, especialmente as negativas, é um sinal do nosso profissionalismo e autoconsciência.
Todos nós já nos vimos envolvidos numa “daquelas” situações. Sabem? Aquelas que nos fazem ter vontade de gritar ou de nos escondermos debaixo da secretária em posição fetal, enquanto sentimos pena de nós próprios. Se na nossa vida pessoal, essas poderiam ser respostas válidas (pelo menos temporariamente), no trabalho, estes comportamentos podem ter um impacto negativo na nossa produtividade e crescimento profissional.
Situações de stress são muito comuns no local de trabalho, daí a importância de aprendermos a gerir as nossas respostas e reações.
Neste artigo, iremos explorar as emoções negativas mais comuns sentidas no local de trabalho e que estratégias podemos usar para as gerir de forma mais produtiva.
Um estudo, realizado em 1997 por Cynthia D. Fisher, revelou que as emoções negativas mais frequentes em contexto de trabalho são:
- Frustração
- Nervosismo
- Raiva
- Antipatia (quando não gostamos de alguém)
Vamos perceber como podemos geri-las?
Frustração
Geralmente, sentimo-nos frustrados quando nos vemos bloqueados e incapazes de progredir, o que pode acontecer por diferentes motivos: quando estamos demasiado tempo à espera daquela aprovação final que nunca mais chega, ou quando a reunião que achávamos que era tão importante está constantemente a ser adiada e não conseguimos ver resultados do nosso esforço. Independentemente da causa, é fundamental lidar de forma adequada com sentimentos de frustração, porque estes têm o potencial de se transformar em emoções mais explosivas, como a raiva. Para isso, é importante:
- Identificar e perceber a causa: Compreender a raiz do problema é o primeiro passo para encontrar uma solução eficaz. É importante analisar o que está a bloquear o progresso e procurar maneiras de contornar obstáculos.
- Comunicar eficazmente: Expressar sentimentos e preocupações de maneira clara e assertiva, conversando com colegas ou superiores sobre o que nos está a deixar frustrados, de forma a podermos trabalhar juntos na procura de uma solução.
- Praticar a paciência e a resiliência: Entender que algumas situações estão fora do nosso controlo. Desenvolver a paciência e a capacidade de nos adaptarmos às mudanças e às “pedras no caminho” pode ajudar a lidar melhor com a frustração. Além disso, devemos concentrar o nosso esforço em ações que podemos tomar para melhorar a situação e retirar o foco daquilo que não está nas nossas mãos.
- Estabelecer expetativas realistas: Definir metas atingíveis e prazos realistas alinhados com a equipa. Expetativas desalinhadas ou excessivamente elevadas, bem como prazos impossíveis de cumprir podem ser fontes de frustração.
Nervosismo
Sentimentos de nervosismo e ansiedade são normais e expectáveis. Aliás, o medo permitiu-nos sobreviver como espécie. Contudo, níveis descontrolados de nervosismo, ansiedade e preocupação colocam em causa não só o nosso desempenho diário, como, mais importante, a nossa saúde mental e bem-estar. É essencial encontrar formas de lidar com estas emoções, mantendo um equilíbrio saudável que nos permita continuar a funcionar como pessoas e profissionais. Como? Digo-vos já!
- Identificar e reconhecer sentimentos: O primeiro passo deve passar por reconhecer e aceitar que nos estamos a sentir nervosos e preocupados, o que nos permite lidar diretamente com essas emoções em vez de as ignorar ou reprimir.
- Praticar técnicas de relaxamento: Técnicas de respiração, meditação, yoga ou mindfulness podem ajudar a reduzir o stress e a ansiedade. Dedicar alguns minutos do nosso dia a estas práticas pode fazer a diferença. A prática regular de exercício físico é, também, fundamental na prevenção e minimização do impacto destas emoções.
- Criar um registo de preocupações: Quando sentimos que as preocupações estão a agitar a nossa mente e a tornar-se demasiado intensas, podemos escrevê-las num caderno e, em seguida, marcar uma hora para lidar com elas. Antes dessa altura, esquecemos essas preocupações, sabendo que vamos “pegar nelas” num momento já definido.
- Praticar a “auto-compaixão”: Devemos ser gentis connosco e perceber que todos enfrentamos desafios. Evitar a autocrítica severa e entender que os erros vão acontecer e que o foco dever ser na solução e não no alimentar de sentimentos de culpa.
- Procurar ajuda profissional: Se os sentimentos de nervosismo e preocupação persistirem e começarem a interferir significativamente com a nossa vida, devemos considerar procurar ajuda profissional.
Raiva
A raiva descontrolada é, talvez, a emoção mais destrutiva que as pessoas experimentam no local de trabalho. Pode conduzir a conflitos, prejudicar relações profissionais e impactar negativamente a produtividade. Além disso, é, frequentemente, uma das emoções que temos mais dificuldades em gerir. Contudo, existem várias estratégias que podemos adotar para que a raiva não tome conta de nós:
- Prestar atenção aos primeiros sinais: A raiva manifesta-se de formas diferentes em pessoas diferentes. Assim, é importante aprendermos a reconhecer de que formas a raiva se manifesta em nós e estar atentos aos sinais físicos e emocionais que indicam que a estamos a sentir. Alguns dos mais frequentes são a tensão muscular, o aumento da frequência cardíaca ou a irritação excessiva. Reconhecer estes sinais precocemente pode ajudar a tomar medidas antes que a raiva se intensifique. Devemos lembrar-nos que temos a capacidade de escolher a forma como reagimos a uma situação.
- Parar e respirar: A respiração profunda e controlada pode ajudar a reduzir a intensidade da raiva. Inspirar lentamente pelo nariz, suster o ar por alguns segundos e depois expirar lentamente pela boca.
- Refletir antes de reagir: Devemos dar a nós próprios um momento para pensar antes de responder a uma situação que nos irrita. Refletir sobre a melhor forma de abordar o problema sem deixar que a raiva controle as nossas palavras ou comportamentos e atitudes é fundamental na manutenção da compostura.
- Imaginar como somos quando estamos zangados: Imaginarmos o nosso aspeto e comportamento quando estamos zangados, pode ajudar-nos a ganhar uma diferente perspetiva da situação. Por exemplo, se estamos prestes a gritar com o colega de trabalho, imaginemos o nosso aspeto: a nossa cara está vermelha? Estamos a agitar os braços de forma agressiva? Será que gostávamos de trabalhar com alguém assim? Provavelmente não.
- Comunicação assertiva: Expressar preocupações e frustrações de maneira calma e assertiva. Usar o “eu” em vez do “tu” para evitar acusações e expor claramente o que deve ser resolvido. Por exemplo, “Eu sinto-mo frustrado quando as reuniões são adiadas sem aviso e gostava que encontrássemos uma solução para mantermos os nossos compromissos” em vez de “Estás sempre a adiar reuniões! Assim não vamos a lado nenhum!”. Desta forma, retiramos o foco da atribuição de culpados e concentramo-nos na resolução do problema.
Antipatia
E quando trabalhamos com alguém de quem não gostamos?
Provavelmente, todos nós já tivemos de trabalhar com alguém de quem não gostamos. Esse tipo de situação pode ser desafiador e gerar desconforto no ambiente de trabalho. No entanto, é possível lidar com estas interações de forma produtiva e profissional. Dou-vos, então, algumas estratégias para gerir e melhorar a dinâmica com colegas com os quais temos dificuldades:
- Manter o profissionalismo: Focar no trabalho e manter uma atitude profissional, independentemente de preferências pessoais. É importante que nos concentremos nas tarefas e objetivos comuns para minimizar conflitos.
- Estabelecer limites saudáveis: Definir claramente os limites das interações com o colega para evitar situações desconfortáveis. Manter as interações focadas em assuntos de trabalho e evitar discussões pessoais.
- Manter a auto-reflexão: Avaliar a nossa própria atitude e comportamento em relação ao colega. Às vezes, ajustar a nossa perspetiva pode ajudar a melhorar a interação e torná-la mais produtiva.
- Comunicar de forma clara e objetiva: Usar uma comunicação direta e assertiva para evitar mal-entendidos. Devemos ser claros acerca das nossas expetativas e necessidades, e ouvir atentamente o que o outro tem a dizer, praticando a empatia.
- Pedir ajuda dos Recursos Humanos, se necessário: Se a situação se tornar insustentável e começar a afetar a nossa capacidade de trabalhar, devemos considerar envolver o departamento de Recursos Humanos para mediar a situação e encontrar uma solução.
Resumindo…
Todos nós temos de lidar com emoções negativas no trabalho. Em vez de as ignorar, reprimir, ou deixar fluir livremente, devemos aprender a geri-las para que as possamos usar a nosso favor e, se possível, aprender e crescer com elas. Ninguém quer trabalhar num ambiente em que as emoções negativas se manifestam de forma descontrolada.
Devemos perceber as principais causas das nossas emoções negativas e quais as que enfrentamos com mais frequência. Quando essas emoções começam a dar sinais, devemos iniciar e implementar as estratégias que melhor se adequam a nós na resposta a cada situação.
A capacidade de lidar com sentimentos como raiva, nervosismo e frustração melhora, não só, o bem-estar individual, mas também fortalece as relações e a eficiência da equipa. Investir no desenvolvimento destas competências pode transformar desafios emocionais em oportunidades de crescimento e sucesso profissional.