O poder de pertencer

Importância para a saúde mental e felicidade no trabalho

Saúde mental é saúde

A OMS define saúde como um “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Não há saúde sem saúde mental – esta não é uma “tendência” ou uma “buzzword” e é fundamental que comece a ser debatida com a seriedade e empatia que merece. A saúde mental não é um lifestyle. Saúde mental é saúde e, como tal, precisamos dela para viver e usufruir da nossa existência em pleno.

Vários são os fatores que podem influenciar a nossa saúde mental, não só na vida em geral, como em contexto de trabalho.

Hoje vou falar-vos de pertença, do seu significado e importância, bem como dos seus impactos em diferentes contextos.

“Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio”

Se olharmos para o que nos diz o dicionário, o significado da palavra pertencer é “fazer parte”. Contudo, será assim tão simples? Eu posso fazer parte e não pertencer – fazer parte de uma equipa de trabalho e não lhe pertencer, ter um grupo de colegas com quem vou ao ginásio e não sentir que lhe pertenço. Fazer parte é estar presente, participar. Pertencer é outra coisa. Envolve estruturas psicológicas mais profundas, que vão além de uma participação formal. Quando falamos em pertença, referimo-nos ao sentimento de sermos aceites, valorizados, ouvidos e incluídos.

Pertencer envolve um sentido de segurança emocional e identidade, que está intimamente ligado às relações que criamos, experiências que partilhamos e a um sentido comum de propósito, que contribuem para o nosso bem-estar e identidade pessoal e social. É, também, na relação e a partir da conexão que criamos com o outro e com o mundo, que nos construímos.

Na psicologia, a pertença é vista como uma necessidade humana fundamental, essencial para a saúde mental e felicidade. Na verdade, em 1943, Abraham Maslow publicou a sua Teoria da Motivação Humana, na qual definiu uma hierarquia de necessidades que devem ser satisfeitas na nossa busca pelo patamar supremo, a necessidade autorrealização, de concretizarmos o nosso máximo potencial. Nesta pirâmide, a nossa necessidade de pertencer vem no terceiro nível, logo após as necessidades fisiológicas e de segurança, o que parece estar alinhado com a perspetiva evolutiva do ser humano, que sempre prosperou em grupos. A

colaboração e a segurança que os nossos antepassados encontravam em comunidades foram fundamentais para a sua sobrevivência. Esta tendência biológica ainda persiste nos dias de hoje, em que as relações sociais e a integração em grupos, incluindo em contexto de trabalho, continuam a desempenhar um papel vital no nosso bem-estar e saúde.

“Quis saber quem sou, o que faço aqui”

No trabalho, mais do que fazer parte da equipa ou de nos sentirmos integrados, pertencer também implica que nos sintamos aceites e valorizados. Perceber que somos incluídos e que a nossa voz é ouvida, que somos vistos pelo que somos e que o que somos importa.

Estudos mostram que quando sentimos que pertencemos, existe uma maior probabilidade de criarmos um compromisso com a empresa em que trabalhamos, porque nos identificamos com a cultura e com o propósito daquilo que fazemos. Por exemplo, um estudo publicado pela Harvard Business Review concluiu que os locais de trabalho com um elevado sentido de pertença registaram um “aumento de 56% no desempenho profissional, uma queda de 50% no risco de rotatividade e uma redução de 75% nos dias de baixa”. Criar uma cultura centrada em pertencer é bom para o negócio! Até porque a segurança psicológica associada à pertença incentiva-nos a correr riscos e a inovar.

Em contrapartida, o mesmo estudo revela que quando nos sentimos excluídos tendemos a esforçar-nos menos, a produzir menos e a mostrar menos interesse naquilo que fazemos. Além disso, se tivermos em mente a importância do pertencer e do sentido de conexão que isso nos traz, é fácil de perceber as emoções negativas associadas ao sentimento contrário. A falta de conexão e de sentido de pertença pode levar a sentimentos de solidão e isolamento social (que estão diretamente associados a uma ampla variedade de problemas de saúde mental), a baixa autoestima e aumento de stress e ansiedade, por exemplo.

O sentido de pertença não é apenas algo que está na moda ou que seria “agradável de ter”, deveria ser a base da construção de qualquer cultura organizacional.

De acordo com um inquérito da American Psychological Association, para 94% dos inquiridos é relativamente importante ou muito importante que o seu local de trabalho seja um sítio onde sentem que pertencem, o que faz todo o sentido se pensarmos que passamos uma grande parte da vida adulta a trabalhar. Por esse motivo, é expectável que muitos encontremos ligação, sentido de comunidade e pertença em contexto de trabalho.

Resumindo, podemos afirmar que, de uma forma geral, quando nos sentimos integrados, envolvidos, compreendidos e incluídos, é maior a

probabilidade de nos sentirmos mais realizados e felizes, o que deverá ter um impacto positivo na nossa saúde mental.

Por esse motivo, é fundamental que as empresas criem um ambiente em que todos se sintam valorizados.

“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.”

Embora, como em tudo na vida, também neste tema, não existam fórmulas mágicas que possamos usar para resolver todos os nossos problemas, é importante que as organizações vão implementando algumas estratégias que possam contribuir para o fortalecimento do sentido de pertença.

Por exemplo, através de:

Comunicação clara e transparente – A base de qualquer cultura de pertença é uma comunicação clara e honesta. Quando sentimos que podemos expressar as nossas opiniões e preocupações sem medo, é mais provável que sejamos capazes de desenvolver um sentido de conexão com a organização. Por outro lado, quando sentimos que as mudanças, desafios e conquistas organizacionais são partilhadas, vemos reforçada a nossa confiança e segurança na empresa, o que promove um maior envolvimento e compromisso.

Ações e decisões baseadas em feedback – É aqui que se reflete o sentimento de que somos ouvidos e incluídos no processo de decisão. Ouvir as pessoas e implementar mudanças com base nas suas sugestões e preocupações sempre que possível, demonstra respeito e consideração, o que reforça a ideia de que cada pessoa é valorizada e tem algo a contribuir para o crescimento da empresa.

Criação de um sentido de propósito – Um ambiente de pertença também se constrói dando às pessoas um sentido claro de propósito. Quando sabemos claramente os objetivos do nosso trabalho e sentimos que este tem um impacto positivo e que está alinhado com os valores e estratégia da empresa, sentimos que o que fazemos importa e que estamos envolvidos com o sucesso da organização.

Oportunidades de crescimento e desenvolvimento – O investimento no crescimento pessoal e profissional dos trabalhadores fortalece o vínculo entre o colaborador e a organização. Sentir que há oportunidades para aprender e evoluir dentro da empresa contribui para o bem-estar e para o sentido de pertença.

Reconhecimento e valorização – Reconhecer as conquistas e o contributo de cada um é uma forma poderosa de fortalecer o sentido de pertença. Todos gostamos de ser valorizados pelo nosso esforço e dedicação e de ser reconhecidos quando fazemos um bom trabalho.

Diversidade e Inclusão – Não podemos falar de pertença sem falar de diversidade e inclusão e da necessidade de implementar políticas que a promovam. A pertença não deve ser sinónimo de conformidade, mas sim de valorização das diferenças, promoção da diversidade e da multiplicidade. Dar valor a cada pessoa pelo que é, sem tentar encaixá-la em moldes predefinidos e com base no conceito que temos do que alguém deve ser.

Por último, não esquecer o papel da liderança, na promoção de uma cultura de pertença. Líderes que ouvem, valorizam e apoiam os seus colaboradores promovem um ambiente onde todos se sentem respeitados e conectados.

Pertencer não é apenas um luxo ou um benefício extra no local de trabalho; é uma necessidade para o bem-estar e sucesso das pessoas e das organizações. Cultivar um sentimento de pertença promove a saúde mental, fortalece a colaboração e incentiva a inovação.

Ana Maurício
People & Culture Specialist

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